(PÚBLICO) 03.06.2009, Sérgio C. Andrade
A uma semana da cerimónia de anúncio dos sítios vencedores e a quatro dias do fim da votação, o concurso 7 Maravilhas de Origem Portuguesa no Mundo continua a gerar controvérsia. Ela surgiu agora na Internet, através de uma subscrição lançada por historiadores de várias universidades espalhadas pelo mundo, que contestam o facto de a informação associada aos sítios citados escamotear o papel histórico de Portugal na exploração do trabalho escravo. "Para ser fiel à história e moralmente responsável, consideramos que a inclusão desses 'monumentos' no dito concurso deveria ser acompanhada de informações completas sobre o papel deles no tráfico atlântico", diz o documento, que tem versões em português, francês e inglês.Entre os mais de 400 subscritores estão professores de universidades norte-americanas, do Canadá, Brasil e França, além da Universidade Nova de Lisboa. E estão os historiadores portugueses António Hespanha, que presidiu à Comissão dos Descobrimentos, Boaventura Sousa Santos, do Centro de Documentação 25 de Abril, e Miguel Portas, eurodeputado do Bloco de Esquerda.Dos 27 sítios e monumentos distribuídos por 16 países e três continentes colocados a votação, os subscritores referem especificamente a fortaleza de S. Jorge da Mina (Gana), a Cidade Velha na ilha de Santiago (Cabo Verde) e a Ilha de Moçambique, como lugares historicamente associados ao tráfego de escravos. E lembram que Portugal e, depois, o Brasil foram "responsáveis por quase metade dos 12 milhões de cativos transportados através do Atlântico". Lamentam, por isso, que o Governo português e instituições como a Universidade de Coimbra patrocinem esta iniciativa sem cuidar "da dor daqueles que tiveram antepassados seus deportados desses entrepostos comerciais e muitas vezes ali mortos".O historiador Pedro Dias, da Universidade de Coimbra, responsável científico pela escolha dos sítios, responde que os textos sobre cada um deles dizem apenas respeito "à sua dimensão histórico-artística". "Praticamente, e até ao século XIX, houve comércio de escravos em todos esses sítios", nota o ex-director da Torre do Tombo. "Mas isso não é relevante para o concurso", que tem essencialmente uma dimensão "estética e lúdica", defende Pedro Dias, recusando estar a esconder essa vertente, que marcou não só a história portuguesa, mas a de toda a humanidade.
Pedro Dias, responsável pela escolha dos sítios a concurso, diz que este tem uma vocação mais estética do que histórica
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