domingo, 30 de maio de 2010

Contestação a Ardi

Como em tudo, os absolutos vão sendo substituídos pelos relativos?

Cientistas contestam Ardi, a avó da Humanidade
(PÚBLICO) 2010.Maio.29 | Clara Barata

Ardi, o diminutivo pelo qual ficou conhecido o fóssil de Ardipithecus ramidus apresentado em Outubro como o mais antigo hominídeo (por ter vivido há 4,4 milhões de anos), pode afinal não pertencer à linhagem da Humanidade. E pode não ter vivido numa floresta, como dizia a equipa de Tim White, mas antes numa savana, apenas com algumas árvores, dizem dois artigos publicados esta semana na revista Science, onde também foi publicada a descoberta original.
Um dos artigos, por Esteban Sarmiento, da Fundação para a Evolução Humana, de New Jersey (EUA), defende que não foram apresentadas provas suficientes de que Ardi seja de uma época posterior à separação da linhagem humana da que originou os chimpanzés.
Para este cientista, o Ardipithecus ramidus tratar-se-á de "um membro primitivo" da linhagem comum dos grandes primatas e dos humanos após a divergência dos orangotangos - que partiram para uma evolução própria na Ásia. Ardi, diz, não é posterior à divergência dos hominídeos dos antepassados dos chimpanzés.
Tim White, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e alguns elementos da sua equipa – que estudou o fóssil ao longo de 15 anos e o revelou em 11 artigos publicados a 2 de Outubro na Science –, tem direito a resposta. Para além das respostas mais técnicas, diz que Sarmiento "não oferece interpretações alternativas" ou correcções.
O segundo artigo crítico relaciona-se com uma ideia central da evolução: que os hominídeos começaram a andar de pé quando as savanas se espalharam no Leste de África, o berço da Humanidade.
A equipa de White apresentava um retrato diferente: Ardi andaria erecto/a (a maior parte dos ossos são de fêmea) num habitat de "floresta cerrada" e não na savana aberta do cenário clássico. Thure Cerling, geoquímico da Universidade do Utah (EUA), e sete outros cientistas contestam este argumento, dizendo que o fóssil estudado terá vivido numa faixa de árvores ao longo de um curso de água que atravessava uma savana.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

«Escrever» Música

... afinal tem muitos mais séculos do que se pensava? A notícia aí está.

Há uma partitura musical com 4000 anos
(PÚBLICO) 2010.Maio.07

A descoberta arqueológica, em si, já aconteceu há mais de meio século: foi em 1948, na costa ocidental da Síria por uma missão francesa. Mas, agora, o pianista sírio Malek Jandali, está a tentar provar a tese de que as tabuletas cuneiformes de Ugarit mostram a existência de sistemas de anotação musical muito antes do seu aparecimento no Ocidente, no século XI.
O pianista terminou recentemente uma digressão pelo Médio Oriente com a peça Ecos de Ugarit, inspirada no texto das tabuletas, um hino de homenagem a uma deusa, e que Jandali gravou com a Orquestra Filarmónica russa. O pianista disse à AFP que quis com a obra "mostrar essa verdade histórica" corroborada pelo trabalho de arqueólogos e musicólogos como a americana Anne Kilmer.
"A anotação inscrita, embora diferente das actuais, prova a existência nessa época de uma teoria da música", afirmou à agência francesa de notícias. O resultado pode ser diferente consoante a interpretação dos símbolos musicais. "Certos musicólogos interpretaram os símbolos como uma melodia ou uma nota musical, outros como pausas ou ritmos", explica o pianista, que dedicou quatro anos a reunir todas as análises possíveis.
Jandali concluiu que cada tentativa de decifrar a música proporcionava uma melodia diferente e compôs a obra juntando todos os pontos comuns de cada uma dessas leituras distintas.