domingo, 28 de outubro de 2012

«Descobrimento/Achamento» do Brasil Assunto histórico interessante, devidamente contextualizado, porque este assunto é «mais abordado» no 8.º ano e a problematizaçao é ainda muito incipiente Francisco Contente Domingues O caso Pacheco Pereira (PÚBLICO) 2012.Out.14 - Frederico Carvalho / Entrevista Afinal quem chegou primeiro ao Brasil, Pedro Álvares Cabral ou Duarte Pacheco Pereira? Uma nova resposta é dada por Francisco Contente Domingues, da Universidade de Lisboa: Duarte Pacheco Pereira foi lá em 1498, mas não percebeu onde estava, por ter uma imagem errada do mundo Duarte Pacheco Pereira, um dos grandes navegadores dos séculos XV-XVI e capitão de guerra na Índia, primeiro grande herói da Expansão recebido em Lisboa com um desfile triunfal e a quem Camões chamou "Aquiles lusitano", deixou na obra Esmeraldo de Situ Orbis frases que têm sido tomadas como prova do descobrimento do Brasil antes de 1500, a data oficial. O debate mantém-se aceso desde que o escrito foi revelado em 1892. Francisco Contente Domingues, professor de História dos Descobrimentos na Universidade de Lisboa, propõe-se romper o círculo vicioso com uma interpretação inovadora, num livro lançado esta semana em Lisboa: A Travessia do Mar Oceano. A viagem ao Brasil de Duarte Pacheco Pereira em 1498 (ed. Tribuna da História). Porquê voltar a debater hoje as incógnitas da exploração de Duarte Pacheco Pereira em 1498, depois de mais de um século de polémicas? Porque é um problema que está mal resolvido. Decidiu pôr perguntas novas à passagem do Esmeraldo de Situ Orbis onde é mencionada a travessia do Atlântico. Pode sintetizar a sua proposta? Acho que nunca foi colocada a questão de se saber o resultado da viagem em função da visão do mundo do próprio navegador. Os historiadores pensaram sempre em função da imagem do mundo que ternos hoje. Assim sendo, discutiram resultados que não eram compatíveis com aquilo que o navegador encontrou. Depois, a visão do mundo que está plasmada no Esmeraldo tem uma expressão cartográfica. Há um mapa de 1519 que ilustra bem o que é a concepção de Duarte Pacheco Pereira – coisa que já foi notada desde Armando Cortesão, mas nunca tinha sido feita a articulação entre o texto e o mapa para chegar à conclusão devida sobre o alcance da viagem. Ponto capital da sua interpretação: Pacheco Pereira passou para a outra margem e chegou a uma terra desconhecida que, para ele, não era continental nem insular. Era o quê, então? Urna das duas concepções do mundo dominantes na época pretendia que todo o mundo conhecido e todos os oceanos eram rodeados por terra. No texto de Pacheco Pereira, aquilo que ele está verdadeiramente a discutir quando fala desta viagem é qual a proporção entre terra e água. Ele conclui que a terra ocupa a maior parte do espaço e que a água se situa no centro. É, em termos gerais, a concepção ptolomaica do mundo [de Cláudio Ptolomeu, séc. II d.C.]. Duarte Pacheco pensa que chegou a essa terra que tudo envolve – como ele diz, "que vai em cercoito per toda a redondeza". A ideia de continente ou de ilha não se aplica a este conceito. Mas concorda com Jorge Couto, que diz em A Construção do Brasil (ed. Cosmos, 1995) que o Esmeraldo mostra uma "observação directa" da orla marítima da região amazónica? Concordo genericamente. Pacheco Pereira deve ter estado naquilo a que nós hoje chamamos Brasil, e a descrição que faz pode significar que andou também pelo mar das Caraíbas. Creio que foi uma viagem longa, ligada à necessidade de identificar os territórios que pertenciam a Portugal ou a Castela de acordo com o Tratado de Tordesilhas, de 1494. Escreve no seu livro: "Discutir quem foi o primeiro a chegar a uma terra até então desconhecida podia fazer sentido há 50 anos, mas hoje não é assim". A maioria das pessoas que se interessam pelos Descobrimentos fora do mundo académico diria o contrário. Quer explicar? Quando pensamos em descobrimentos em História, pensamos num universo cultural que detém um conhecimento geográfico e vê esse conhecimento ser acrescido. Saber quem foi o primeiro a chegar a um sítio é impossível. Quando muito, podemos saber quem foi o primeiro que deixou notícia de ter chegado. A segunda distinção tem a ver com o impacto dessa viagem. Urna viagem fortuita que não tem consequências não cabe na noção de descobrimento corno nós a usamos. A questão não é ir pela primeira vez: é ir, dar conhecimento dessa nova realidade e haver capacidade para lá voltar sucessivamente, integrando esse território no conhecimento colectivo. Normalmente a forma corno isso ocorre é através da representação cartográfica. A questão da primazia perde então toda a relevância? Pode ter alguma relevância quando há viagens praticamente simultâneas e se põem questões de natureza política quanto à ocupação de territórios. Mas a viagem de Pacheco Pereira não foi fortuita. Ele diz que a fez a mando do rei. Não foi fortuita, foi de certeza muito intencional. Mas julgo, porque certezas absolutas não há, que não foi feita com o objectivo de descobrir terras novas. A carta de Pêro Vaz de Caminha a D. Manuel I, em 1500, deve assim continuar a ser considerada a "certidão de nascimento" do Brasil? Sim, é um dos três documentos que elucidam uma viagem [a de Pedro Álvares Cabral] e pode ser considerada o primeiro testemunho real e duradouro da chegada dos portugueses ao Brasil, a par das cartas de Mestre João e do chamado Piloto Anónimo. A carta de Pêro Vaz é a mais importante das três. Como explicar que Duarte Pacheco tenha mantido uma ideia próxima da Geografia de Ptolomeu, vendo o Atlântico como "uma muito grande alagoa metida dentro na concavidade da terra", sendo ele um perito da navegação, tendo participado nas negociações do Tratado de Tordesilhas e viajado até à Índia duas vezes, e quando em Portugal já se produziam mapas como o Planisfério de Cantino, em 1502? Essa é a parte difícil de entender, apenas porque para nós hoje não é fácil compreender que haja duas maneiras radicalmente distintas e coexistentes de ver o mundo. A questão é essa: há. Na época, muita gente acreditava que o mundo era como disse Ptolomeu, enquanto outros acreditavam exactamente no contrário, que a água rodeia toda a terra. Isto tem a ver com o facto de a representação de Ptolomeu não ser conflituante de com as viagens feitas até então. Por outro lado, joga-se em cima da mesa quer todo o prestígio da cultura clássica, quer o facto de a imagem de Ptolomeu ser aquela que mais se aproxima dos textos sagrados, e da Bíblia em primeiro lugar. Digamos que seria mais lógico as pessoas estarem de acordo com Ptolomeu do que com a perspectiva contrária. Mas quando foi escrito o Esmeraldo as navegações não tinham já mostrado erros de Ptolomeu? O Esmeraldo terá sido escrito entre 1505 e 1508, e em 1507 saiu uma edição extremamente interessante da Geografia de Ptolomeu. Até então, as cartas acrescentadas a Ptolomeu mostravam que não havia ligação entre o Atlântico e o Índico. Na nova edição, as chamadas "tábuas novas" já mostram a ligação dos oceanos, mas ao mesmo tempo continuam a incluir-se as cartas antigas em que a ligação não existe. É a melhor prova de que esta é uma matéria conflitual. O facto de o Esmeraldo se ter mantido impublicado pode explicar-se por ter sido contraditado pela circum-navegação de Magalhães e Elcano, em 1519-22? Penso que a razão é exactamente essa. Tem havido discussão sobre isso, e alguns autores pretenderam que havia sobre a obra uma espécie de segredo devido à sua importância. Mas na verdade o Esmeraldo circulava em cópias manuscritas. Foi utilizado por João de Barros e foi levado para Espanha por um espião ao serviço de Filipe II chamado João Baptista Gésio. Em que medida a exploração de Pacheco Pereira está ligada à terceira viagem de Colombo, que ia reconhecer a parte Sul das novas descobertas? Os reinos ibéricos, mesmo depois de Tordesilhas, estavam numa corrida de marcação de território? A demarcação interessava mais a Castela do que a Portugal, porque Portugal estava voltado para o Oriente. Mas julgo que havia interesse em tentar perceber o que havia ali, porque em 1498 ninguém tinha a certeza. Creio, por isso, não ser coincidência que Colombo tenha feito uma viagem para explorar parte da costa sul-americana ao mesmo tempo que Duarte Pacheco fala da sua viagem. Vários autores dizem que D. Manuel não divulgou a viagem de Duarte Pacheco porque percebeu que boa parte do litoral percorrido estava na esfera castelhana. Concorda? É muito possível que ele tenha viajado por regiões que pertenceriam a Castela. Mas eu não tenho resposta para tudo, e ninguém tem. Noutros escritos seus, refuta a ideia de que houve uma política de sigilo dos monarcas portugueses relativa às navegações. Então o silêncio sobre a exploração de Pacheco Pereira e a retenção durante um ano da informação da descoberta de Cabral são meramente circunstanciais? Refuto a existência da política de sigilo no exacto seguimento do que foi escrito por Damião Peres há uns 80 anos: o sigilo é um contra-senso, porque na ausência de regulação político-diplomática, como a que decorre de tratados, o principal critério que permite reclamar a soberania de uma terra é dizer que se chegou lá primeiro. O que faz sentido é publicitar. Em relação ao que nós hoje chamamos Brasil, penso que era um destino secundário para as navegações portuguesas, que estavam completamente voltadas para Oriente. No final do século XV e primeiras décadas do século XVI, o rei via a costa brasileira como ponto de apoio da rota da Índia e não um destino em si mesma. A exploração do território não tomou um projecto da Coroa de imediato . Diz acreditar que Pacheco não foi estranho à elaboração do mapa-múndi de Lopo Homem, de 1519, mas só revelado no século xx. Esse mapa apresenta uma reconhecível costa brasileira, mas desenha-a como excrescência de uma terra que circunda os velhos três continentes e os oceanos, ao arrepio de quase toda a cartografia da época. Como crer que Pacheco Pereira tenha colaborado nessa visão depois, por exemplo, do famoso mapa de WaldseemüIler, em que surge o nome América, em 1507? A influência de Pacheco Pereira pode ter existido na construção de um mapa que reflecte exactamente aquilo que ele pensava, mas em rigor não é necessária; havia várias pessoas a pensar a mesma coisa. A coincidência no tempo e no espaço da redacção do Esmeraldo e da elaboração do mapa de Waldseemüller também não deve espantar-nos: corno já disse, visões do mundo opostas são perfeitamente coexistentes. Os europeus ainda não têm o quadro do conhecimento geográfico global. Compreender essa coexistência, insisto, é a dificuldade do historiador actual. A frase mais citada do Esmeraldo é "a experiência, que é madre das cousas, nos desengana e de todas as dúvidas nos tira". Na sua análise mostra como o autor invoca a experiência para dar força à descrição errada do mundo. E distingue esta experiência prática da experimentação-base da revolução científica do séc. XVII, como construída por Galileu, Bacon ou Newton. Está perfeitamente claro que a experiência de Pacheco Pereira é a experiência empírica e não a científica. O que é interessante é que a experiência é o terceiro argumento que ele invoca, por ordem de importância, para justificar a sua visão da forma do mundo, depois dos textos bíblicos e dos autores da Igreja medieval. A experiência dele certifica um erro. Concluindo: afinal tanto Colombo, que morreu acreditando ter chegado perto da China ou da Índia, como Pacheco Pereira, pelo que sabemos o primeiro a atingir a costa do Brasil, estavam os dois fundamentalmente errados? Penso que Colombo, no final da vida, sabia aonde tinha chegado. Era melhor navegador do que aquilo que a historiografia portuguesa gosta de admitir, e não tão excelente corno muitos historiadores italianos e castelhanos gostam de dizer. O engano que cometeu na primeira viagem não era sustentável por muito tempo. Julgo que a persistência na afirmação de que chegara ao destino original tinha a ver com a necessidade de manter a sua posição perante os patronos, os Reis Católicos – mas ninguém podia adivinhar na época que existia aquele quarto continente. Quanto a Pacheco Pereira, haveria de perceber ainda em vida, com a circum-navegação de Fernão de Magalhães, que o mundo não era como ele pensava.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Elvas, Património Mundial

Fiel àquele princípio de que vale mais uma imagem que mil palavras, nada como aceder a http://videos.publico.pt/Default.aspx?Id=0c21bad0-29cd-4c89-b830-781fb51a671d A visita vale a pena.

domingo, 8 de julho de 2012

FORTIFICAÇÕES DE ELVAS, PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE O Expresso de 2012.junho.30, dá notícia da elevação a Património Mundial da Humanidade das Fortificações de Elvas. Um pedaço da nossa História que ficará salvaguardada para lá dos tempos afirmando a nossa nacionalidade e a luta pela independência. Fortificações de Elvas são Património Mundial Expresso.2012.junho.30 UNESCO classifica como Património Mundial todas as fortificações de Elvas, o único monumento português entre os 33 candidatos. A maior fortificação abaluartada do mundo, em Elvas, foi hoje classificada como Património Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), revelou à Agência Lusa fonte do município. As fortificações de Elvas foram classificadas, na categoria de bens culturais, ao início da tarde de hoje na 36.ª sessão do Comité do Património Mundial, que está reunido até 6 de julho, em São Petersburgo, na Rússia. O conjunto de fortificações de Elvas, cuja fundação remonta ao reinado de D. Sancho II, é o maior do mundo na tipologia de fortificações abaluartadas terrestres, possuindo um perímetro de oito a dez quilómetros e uma área de 300 hectares. Único monumento português As fortificações de Elvas constituíam o único monumento português entre os 33 candidatos que fazem parte da lista de Património Mundial, elaborada pela Unesco. A fonte do município explicou à Lusa que foram classificadas todas as fortificações da cidade, os dois fortes, o de Santa Luzia, do século XVII, e o da Graça, do século XVIII, três fortins do século XIX, as três muralhas medievais e a mudalha do século XVII, além do Aqueduto da Amoreira. Classificado como Património Nacional em 1910, o Forte da Graça, monumento militar do século XVIII situado a dois quilómetros a norte da cidade de Elvas, constitui um dos símbolos máximos das fortalezas abaluartadas em zonas fronteiriças. O Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios (ICOMOS) já tinha dado parecer "decisivo e favorável", tendo sido provado que as fortificações da cidade alentejana "reúnem o valor universal excecional, que é o principal para que uma candidatura seja aprovada", segundo a vereadora da Cultura do município de Elvas, Elsa Grilo. Ler mais: http://expresso.sapo.pt/fortificacoes-de-elvas-sao-patrimonio-mundial=f736687#ixzz1zUd0Z0ZL
ARTE RUPESTRE O Expresso, de 2012.Junho.16, dá notícia de uma descoberta no campo da pré-História que antecipa, no tempo, a arte rupestre. Os manuais do 7.º ano indicam esta atividade do homem com o homo sapiens sapiens. Cabe agora refrenciá-la com o homo sapiens / Homem de Neanderthal. Pintura rupestre deve ter começado com homem de Neanderthal Uma nova técnica radiométrica ajudou a descobrir que a prática artística pré-histórica deve ter começado na Europa, dez mil anos antes do que os cientistas previam. A gruta de El Castillo, em Espanha, tem a pintura rupestre mais antiga da Europa, com mais de 40.000 anos, noticiaram as agências internacionais, citando uma nova investigação na qual participou o arqueólogo português João Zilhão. A investigação, com recurso à técnica radiométrica com urânio e tório, foi efetuada em 50 pinturas paleolíticas de 11 grutas localizadas nas regiões espanholas das Astúrias e Cantábria, incluindo as grutas de Altamira, El Castillo e Tito Bustillo. Em El Castillo, os peritos detetaram uma gravura que creem ter mais de 40.800 anos. Até há bem pouco tempo, a gruta Abri Castanet, em França, reclamava ter a imagem rupestre mais antiga da Europa, com 37.000 anos. Estudo é publicado hoje Na descoberta agora divulgada participaram 11 investigadores, incluindo o português João Zilhão, especialista em arqueologia pré-histórica e antigo coordenador do projeto do Parque Arqueológico do Vale do Côa. O estudo, a publicar hoje na revista "Science", conclui que a prática artística pré-histórica começou na Europa talvez dez mil anos antes do que os cientistas previam e pela mão do homem de Neanderthal, que terá morrido há cerca de 40.000 anos. Segundo um dos investigadores envolvidos na descoberta, Alistair Pike, da Universidade de Bristol, no Reino Unido, "os resultados desta datação mostram que os homens modernos terão chegado de África à Europa, com a pintura mural a fazer já parte das suas atividades culturais ou a ser desenvolvida por eles muito rapidamente". Ainda de acordo com o mesmo especialista, "os vestígios da presença dos homens modernos no norte de Espanha remontam a 41.500 anos, altura em que havia ainda [na região] homens de Neanderthal". Medir a idade dos sedimentos carborizados A técnica de datação usada na investigação mede a idade dos sedimentos carbonizados sobre as pinturas, mas não data a camada superior dos pigmentos, para não os estragar. Por isso, ressalva o arqueólogo João Zilhão, as pinturas poderão ser "vários milhares de anos mais antigas do que os sedimentos carbonizados que as cobrem". Ver mais em http://expresso.sapo.pt/pintura-rupestre-deve-ter-comecado-com-homem-de-neanderthal=f733078

sábado, 5 de maio de 2012

Dia 9 de Maio, dia da Europa! Para melhor conhecer a Europa, e utilizando informação específica do 8.º ano de escolaridade, eis um exercício e um desafio. JOGAR É APRENDER. http://portal.esesmoriz.edu.pt/images/stories/2011_2012/DiaEuropa2012/DiaEuropa2012.htm E para construir a Europa - União Europeia» - acede a http://www.bpb.de/fsd/europapuzzle/puzzle_flash1.html e diverte-te.
1.º de Dezembro - Dia da Restauração de Portugal Portugal assiste a alguma «discussão» sobre se deve ou não continuar a ser feriado nacional o dia 1 de Dezembro. E isto em nome do aumento da produtividade. Sim? Não? Mais uma vez, se recorre ao Público. Queremos ser independentes ou não? Debate Feriado do 1.º de Dezembro (PÚBLICO) 2012.Abril.05 - José Loureiro dos Santos (General) Atualmente, a independência já não é uma postura que procura garantir a sobrevivência de um país orgulhosamente só. A globalização, que entrelaçou os interesses das unidades políticas e as tornou incapazes de resolverem por si só os problemas com que se confrontam, implicou um tipo de independência cuja garantia depende frequentemente mais das interdependências do que de um isolamento pretensamente autossuficiente. O que deverá ser traçado com subtileza e inteligência de atuação estratégica. Uma vez que, na democracia, o Estado emana da nação (conjunto dos cidadãos), é indispensável que esta percecione que as decisões políticas sejam capazes de garantir que, em cada circunstância, prevaleça a vontade de ela agir em conformidade com os seus interesses. A liberdade de ação de um país consegue-se através de estratégias de afirmação nacional que passam pela utilização dos diferentes vetores estratégicos à disposição do Estado e da sociedade civil com a finalidade de garantir o bem-estar e a segurança nacional. Agindo no domínio da economia, das finanças, da política externa, da segurança interna e externa, da informação, etc., os governantes têm a obrigação de procurar ultrapassar os constrangimentos que nos criam dificuldades e explorar os pontos em que temos vantagem, para sermos fortes e podermos atuar sem condicionamentos que nos paralisem. Quando falamos em pontos fortes, não nos estamos a referir apenas a fatores de natureza material. Estes são muito importantes para sustentar uma estratégia consequente e para alcançar os objetivos que nos propusermos atingir. Mas não são suficientes para alcançar uma situação de liberdade de ação na esfera internacional capaz de garantir que sejam nossas as principais decisões sobre o que nos diz respeito; isto é, que continuemos a ser uma nação livre e senhora das escolhas que precisamos de fazer, a partir de Lisboa, e não de Washington, de Berlim, de Bruxelas, de Madrid ou de qualquer outra capital. Além dos fatores materiais, terão de existir elementos de natureza intangível, do domínio das convicções e dos valores, que nos deem força para resistir aos interesses de quem nos queira explorar ou dominar e se concretizem na vontade de sermos nós a escolher o nosso destino e a lutar por ele, por intermédio de um governo próprio, a quem delegamos autoridade para agir em nosso nome e em defesa dos nossos interesses. Querermos ser portugueses, termos orgulho no nosso país e na nossa História, estarmos disponíveis a arriscar individualmente para defender os interesses da comunidade nacional, estes e outros sentimentos de dedicação à Pátria onde nascemos, queremos viver e onde repousam os nossos antepassados, constituem fatores indispensáveis para consubstanciar a vontade de sermos independentes. Sem eles, por mais favoráveis que sejam os elementos materiais, é impossível alcançar e garantir a independência que nos permita atuar no quadro do que entendemos ser da nossa conveniência e julgamos capaz de defender os nossos interesses. A recuperação da independência nacional no dia 1 de Dezembro de 1640 e a sua consolidação através de uma guerra que durou 28 longos anos confirma estas afirmações. O quadro estratégico de 1580, com o exército destroçado pela derrota de Alcácer-Quibir, um rei à beira da morte e sem descendência, uma economia desfeita, e a candidatura do rei de Espanha – o mais poderoso país da época – ao trono português, configurou uma situação conjuntural que conduziu à impossibilidade de garantir a independência contra um exército forte e bem comandado. Se os portugueses não tivessem mantido a vontade de voltarem a ter governo próprio e de traçarem o destino que fosse da sua escolha, não teria sido possível que, numa situação estratégia conjuntural posterior, em 1640, com a Espanha em decadência, a nossa economia em progresso e a França a afirmar-se como principal potência europeia, os portugueses tivessem restaurado a independência nacional, na esteira da revolta dos quarenta conjurados no dia 1 de Dezembro de 1640. Os atos simbólicos e a comemoração das datas mais marcantes da História de uma nação contribuem para reforçar a vontade de querer ser independente e, como tal, de viver num país com autonomia para decidir e concretizar os seus objetivos e para defender os interesses que neles convergem. Não há nação que não festeje um dia relacionado com a sua independência. Em Portugal, este dia tem sido o 1.º de Dezembro, o primeiro feriado nacional que foi instituído, aliás a única data visível e concreta de luta para fazer ressurgir a independência nacional, com êxito. Parece que estamos na véspera de esse feriado ser extinto, por determinação dos governantes, num "negócio" que, em termos económicos, corresponde à venda da comemoração da nossa independência por um "prato de lentilhas", ainda, por cima, mais vazio do que cheio. Contrariamente às minhas expectativas, nem o primeiro-ministro nem o líder do segundo partido da coligação governamental, nem tão-pouco (que se saiba) o ministro da Defesa Nacional contrariaram este "negócio". A eliminação do mais significativo feriado nacional quando estamos com a soberania limitada – em termos de oportunidade de marcar a importância de sermos independentes e a vontade de querermos assim continuar – corresponde a considerar dispensável a necessidade do simbolismo da comemoração do dia em que restauramos o autogoverno, com a finalidade de manter viva a vontade de os portugueses pugnarem pela independência nacional. Quem duvidasse do patriotismo dos governantes até poderia ser levado a considerar, erradamente penso eu, que eles não se importariam de o país estar submetido aos interesses de qualquer outro, onde, com toda a probabilidade, a independência seria comemorada. Mas ainda há esperança. Não se compreenderia que os deputados da República Portuguesa se não opusessem à extinção do feriado nacional que comemora a independência da nação que representam, o que ainda podem fazer. Se isso não acontecer, por virtude do "caudilhismo partidário" aparentemente em vigor, espero que o Presidente da República, intérprete supremo do interesse nacional e figura que materializa a nossa independência, aja em conformidade com a necessidade de preservar e reforçar a vontade de manter a identidade e a permanência da nação portuguesa num Portugal independente.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

II Guerra Mundial e actualidade





Há tempos, quando se dava a II Guerra Mundial [9.º ano de escolaridade] e era - é ainda - muito actual a grave crise financeira da Grécia, um aluno questionou até que ponto é que os políticos gregos tinham razão ao lembrarem a ocupação nazi do seu país e as destruições provocadas que nunca foram saldadas. Este texto, mais uma vez do PÚBLICO, é a melhor resposta para essa dúvida.


II Guerra Mundial - As sequelas da ocupação nazi
Contas por saldar? As reparações de guerra alemãs e a Grécia

(PÚBLICO) 2012.Março.25 - Pedro Aires Oliveira

Por iniciativa de alguns políticos helénicos, a memória da II Guerra e das reparações foi convocada para o debate em torno crise grega. Há quem reclame um acerto de contas com a Alemanha. Qual a base histórica de tais reivindicações?
Ns últimos meses, a escalada de recriminações que tem acompanhado a discussão sobre os planos de resgate da Grécia conheceu novos desenvolvimentos. Depois de um ministro do Governo de Papandreou, Theodoros Pangalos, ter recordado, em Fevereiro de 2010, que a Alemanha nunca havia compensado devidamente a Grécia pelos crimes e destruições resultantes da ocupação nazi entre 1941 e 1944, um grupo de deputados helénicos apresentou há algumas semanas uma proposta de discussão da questão das reparações de guerra que poderão ainda ser imputadas a Berlim.
Essas alegações remetem, desde logo, para os efeitos brutais da intervenção alemã na Grécia, iniciada em Abril de 1941 com o propósito de evitar que a campanha desencadeada uns meses antes por Mussolini redundasse num desastre para o Eixo. Embora essa intervenção não estivesse nos planos de Hitler (na altura concentrado na preparação do assalto à URSS), e de este ter declarado publicamente a sua admiração pela resistência oferecida pelos gregos, nem por isso a ocupação alemã foi exactamente branda. Bem pelo contrário. País rural e atrasado, a Grécia não beneficiou da exploração menos abertamente "colonial" que os nazis aplicaram aos países industrializados da Europa Ocidental, vistos como fundamentais para alimentar o esforço de guerra alemão (e mais bem colocados na hierarquia racial nazi do que os europeus dos Balcãs).
Uma factura pesada
Uma vez que desde a guerra franco-prussiana se tinha tomado habitual impor aos Estados vencidos os custos da ocupação, as autoridades alemãs rapidamente confrontaram o governo colaboracionista de Atenas com uma pesada factura. Para satisfazer essa imposição, os gregos tiveram de recorrer a um expediente familiar: a emissão monetária pelo Banco Central, a qual veio a estar na origem de um colossal surto hiperinflacionário. A isto somou-se ainda a exigência de um empréstimo forçado à Alemanha no valor de 476 milhões de marcos, isento de juros. O impacto destas medidas no funcionamento da economia e do Estado não será difícil de adivinhar. No fim da guerra, as receitas fiscais da Grécia cobriam apenas 6% das despesas governamentais, como nota Mark Mazower, um especialista na história da ocupação nazi da Grécia (Hitler's Empire, 2008).
Mas as coisas não se ficaram por aqui. Uma das premissas da política de guerra do III Reich era a de poupar o mais possível a população alemã aos sacrifícios inerentes ao conflito. Como tal, as autoridades nazis nos países ocupados tinham instruções claras para proceder ao confisco de bens alimentares e de outras maté-
Cartaz de propaganda dos aliados de apoio à resistência grega; a bandeira nazi na Acrópole
rias-primas sempre que tal se revelasse indispensável para prevenir situações de carência na Alemanha. A Grécia não escapou a essas exigências e, nos primeiros meses de ocupação, produções alimentares locais no valor de quatro milhões de marcos foram requisitadas por Berlim. Para um país que estava longe de ser auto-suficiente em termos alimentares, e que se encontrava sujeito a um bloqueio naval britânico, esta situação não tardou a evoluir para um desastre humanitário. No Inverno de 1941-42, a fome instalou-se – e os nazis foram completamente insensíveis às privações dos gregos comuns. Estimativas conservadoras apontam para 250 mil vítimas directas e indirectas dessa catástrofe, apenas mitigada pela chegada de alguma assistência através da Cruz Vermelha.
O impacto da ocupação do Eixo (os alemães partilharam a administração do país com os seus aliados italianos e búlgaros) revestiu-se ainda de outros aspectos traumáticos. Como resposta às acções do movimento de resistência helénico entretanto constituído, as autoridades militares alemãs não hesitaram em ordenar retaliações "exemplares" sobre populações civis suspeitas de dar apoio aos insurrectos. Unidades das Waffen SS levaram a cabo dezenas de chacinas contra aldeias e bairros, nalguns casos não poupando crianças, mulheres e idosos. O saldo das atrocidades cometidas pelas forças do Eixo terá rondado os 70 mil mortos.
Com uma persistência metódica, equipas de “especialistas” das SS entregaram-se à tarefa de identificar e reunir a maior parte dos membros da comunidade judaica grega – um núcleo populacional cujas raízes remontavam à Antiguidade e, mais recentemente; à chegada de um grande número de judeus sefarditas expulsos de Espanha no século XV. Calcula-se que cerca de 87% dessa comunidade (aproximadamente 67 mil pessoas, sendo 46 mil oriundas de Salónica) tenha perecido nos campos de extermínio de Auschwitz, na sequência de uma deportação organizada em 1943 pelo Obersturmbannführer Adolf Eichmann. Os sobreviventes desse crime testemunharam depois a atitude solidária e corajosa de muitos dos seus compatriotas gregos, que se dispuseram a enfrentar riscos consideráveis para dar abrigo a crianças e mulheres judias.
Com o seu estatuto de nação aliada, e vítima das depredações do Eixo, a Grécia constituía um dos países em posição de reclamar a sua quota-parte das reparações que viessem a ser fixadas no termo do conflito.
Em 1945, o sentimento geral estava longe de ser favorável a uma atitude de magnanimidade para com os vencidos. A ideia de que uma reedição da "paz cartaginense" imposta à Alemanha e seus aliados no final da Guerra de 14-18 poderia ser contra-producente para a estabilidade do Velho Continente não tinha muitos adeptos. O consenso geral ia muito mais no sentido de obrigar os vencidos a expiar e a pagar pelos seus crimes. Do lado dos soviéticos, a questão quase nem se punha – à medida que o Exército Vermelho avançava, a retribuição ia sendo cobrada aos alemães e aos seus colaboradores, sempre de forma impiedosa. Entre as potências ocidentais, a intenção genérica era também a de tratar a Alemanha como "uma nação inimiga derrotada". Elementos da Administração Roosevelt desenharam planos que davam prioridade à ideia de extirpar as raízes do nazismo, o que pressuponha um esforço consistente para desmilitarizar, desindustrializar e reeducar a sociedade alemã. Nos meses imediatamente posteriores à capitulação alemã,
Em 1941-42, a Grécia teve de ceder alimentos à Alemanha e mais de 250 mil pessoas morreram de fome
Até à crise da dívida, a questão das reparações não afectou muito as relações entre os dois países
Uma força blindada numa cidade grega
os líderes da coligação aliada não foram capazes de chegar a acordo quanto ao montante exacto das reparações que a Alemanha deveria pagar, mas os objectivos genéricos fixados em Ialta e Potdsam mantiveram-se válidos. A Alemanha foi sujeita a um regime de ocupação militar quadri- partida (EUA, Grã-Bretanha, França e URSS) e as potências aliadas foram imputando os custos dessa ocupação aos alemães, através do uso de mão-de-obra forçada (prisioneiros de guerra alemães), apropriação de patentes industriais e confisco de maquinaria e unidades fabris.
A mudança dos aliados
Mas as consequências de uma abordagem demasiado punitiva foram ficando claras, pelo menos aos olhos dos aliados ocidentais. "Pastorilizada" e enfraquecida, a Alemanha tornar-se-ia um sorvedouro de recursos, fazendo da ocupação um compromisso ruinoso. Por outro lado, figuras como o general Lucius Clay, o procônsul americano, não tardaram a reparar que, para pôr a economia e os serviços públicos a funcionar, dificilmente se poderia ser muito esquisito com o tipo de pessoas que se empregavam, tão extenso fora o envolvimento das elites alemãs com o regime de Hitler. Em suma, o objectivo de edificar uma Alemanha estável, democrática e economicamente viável era incompatível com alguns dos desígnios mais draconianos esboçados no fim da guerra. Esta reorientação da postura americana ao longo de 1946 teve vários efeitos. Os mais conhecidos foram o empenho dos aliados ocidentais em construir, primeiro, o embrião de um futuro Estado alemão que abrangesse os seus três sectores de ocupação (por sinal, os mais industrializados); e, em segundo lugar, a ancoragem desse Estado nas instituições fundadas com o propósito de garantir a prosperidade e segurança da Europa Ocidental.
Nada disto seria possível sem um Estado alemão democrático e, sobretudo, estável – pelo que a muitos pareceu indispensável evitar que uma questão tão melindrosa como as reparações voltasse a envenenar a política alemã, como sucedera no período entre-guerras. Isso explica, em boa medida, a atitude lenitiva adoptada pelos norte-americanos face aos termos das compensações passíveis de serem exigidas à Alemanha. Na Conferência de Paris de 1946, a Grécia viu ser-lhe atribuída uma percentagem de 4,5% de reparações materiais, e 2,7 % em outras modalidades, o que equivaleria a um total de cerca de 105 milhões de marcos – mas esse pagamento acabaria por nunca se materializar devido à oposição dos norte-americanos. O tratado final que resultaria dessa conferência, em 1947, circunscreveu-se às reparações imputadas aos aliados da Alemanha, cabendo à Grécia uma compensação da Itália (105 milhões de dólares) e da Bulgária (45 milhões). Em 1953, o Acordo das Dívidas de Londres, que a URSS não subscreveu, adiava para o momento em que fosse possível assinar um tratado de paz envolvendo a Alemanha e todas as nações aliadas, o pagamento de eventuais reparações. Para restaurar a reputação financeira da Alemanha, o Governo de Adenauer aceitou pagar as reparações de Versalhes ainda em falta, bem como as dívidas (e juros) contraídas pela República de Weimar entre 1919 e 1933, o que perfazia um montante de cerca de 15 biliões de marcos (a dívida foi finalmente saldada em 2010). Usando todo o seu talento político, Adenauer conseguiu ainda que compensações devidas a "vítimas de guerra" fossem definidas de maneira a que os seus recipientes fossem, basicamente, cidadãos alemães. E as reparações a pagar a Israel – impopulares
entre o eleitorado conservador alemão – foram objecto de complicadas negociações com os representantes do Estado judaico.
Às vítimas da ocupação nazi na Grécia, o Governo Federal alemão aceitou pagar 115 milhões de marcos em 1960, na condição de que não seriam depois apresentadas reclamações individuais. De fora ficava, por exemplo, o empréstimo de 476 milhões de marcos arrancado aos gregos em 1941, que em valores actuais, e acrescidos juros de 3% ao ano, equivaleria a cerca de 70 biliões de euros. Várias instâncias internacionais, como o Tribunal de Justiça de Haia, têm, por outro lado, recusado dar provimento aos pedidos de compensação reclamados, a título individual, por sobreviventes de várias atrocidades nazis na Grécia.
Apesar de nas últimas décadas alguns políticos gregos terem tentado marcar pontos com a questão das reparações alemãs, a verdade é que até à crise das dívidas soberanas isso não constituiu um tema demasiado espinhoso na agenda entre os dois Estados. De certa forma, a pujança económica alemã foi um dos factores determinantes para o êxito do projecto europeu, de que os gregos foram óbvios beneficiários até há pouco tempo. E embora a historiografia tenda hoje a desvalorizar o impacto pernicioso das reparações na economia alemã do pós-I Guerra Mundial, parece indiscutível que o impacto político, esse, foi explosivo – algo que a memória europeia do período entre-guerras tem bem presente. E, tragicamente, essa é uma lição que a actual classe dirigente alemã parece estar a negligenciar, ao pretender impor programas de austeridade tão obviamente punitivos aos "maus alunos" da Eurolândia.
Historiador
Este texto é publicado no âmbito do projecto Público Mais
publico.pt/publicomais

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Ainda a importância de História

Se houver ainda mais necessidade de afirmar a importância da História é só seguir com atenção a exposição seguinte.
Basta aceder a

http://www.youtube.com/watch?v=FebPPRNtBAU&feature=email

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Curiosidade - Medalhão português encontrado em Malaca


Independentemente das muitas questões que possa suscitar - como lá foi parar, quando, quem o levou, ... há milhentas hipóteses e todas plausíveis, importa conhecer esta pequenina história, porque, afinal, «se mais mundo houvera lá chegara!»

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Encontrado medalhão português do século XIII
dentro de um tubarão na Malásia
(JN) 2012.Fev.23

Uma dona de casa de Klebang, na Malásia, encontrou um medalhão, de origem portuguesa e datado do século XIII, quando preparava um tubarão para cozinhar, divulgou hoje a comunicação social local.
O medalhão, com um peso de cerca de 10 gramas, exibe, num dos lados, o perfil de uma mulher com uma coroa na cabeça, enquanto que na outra face é visível a figura de um crucifixo e uma inscrição - ANTONII, referiu a mesma fonte.
De acordo com um historiador local, citado pelo diário The Star, o perfil feminino pertence à rainha Isabel, consorte do rei D. Dinis, que governou Portugal de 1279 a 1325.
A mulher que fez a descoberta, Suseela Menon, de 47 anos, encontrou o objecto dentro de um tubarão, que tinha comprado num mercado local.
"Decidimos não comer o tubarão, uma vez que o objecto parece ter elementos religiosos", afirmou Suseela, em declarações ao jornal. Para a dona de casa, mãe de duas crianças, a descoberta "foi uma bênção para a família".
O medalhão, com 7,4 centímetros de comprimento e seis de largura, pode ter sido transportado por um soldado ou missionário português durante a colonização da Malásia (Malaca) em 1511.
A cidade malaia esteve sob domínio português entre 1511 e 1641.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA

Artigo curioso num tempo em que tudo é visto imediatamente em função do dinheiro ... que escasseia, como é escasso o emprego que é a fonte desse dinheiro. É uma opinião pessoal, mas é uma achega para o debate. Que curso tirar, o que estudar?


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Muita asneira que para aí circula poderia ser evitada lendo um pouco mais sobre História
A nova luta de classes
(PÚBLICO) 2012.Fev.11 | José Pacheco Pereira*
Há dias, no programa Prós e Contras, um conselheiro de "ernpreendedorismo" teorizava, de forma prosélita e desenvolta, sobre as más escolhas de "projecto de vida" que justificariam muito do desemprego actual. Era evidente pela conversa, que achava que existia uma espécie de culpa individual em se estar desempregado. Pelo meio, perguntou, com evidente escárnio, a um desempregado se este tinha tirado um curso de História, uma imprevidência para quem quer ter um emprego. Não tenho dúvida de que quem formulava esta pergunta fazia parte de um dos lados do novo binómio da luta de classes descrito por Passos Coelho, o dos "descomplexados competitivos". O curso de História, se tivesse feito parte do currículo do desempregado, colocá-lo-ia de imediato na categoria de "preguiçoso autocentrado", antiquado e inútil, "piegas" e queixoso, a quem é preciso dar um abanão de pobreza a ver se se toma "competitivo". Estamos, como já referi, perante uma nova forma de luta de classes: a que opõe "descomplexados competitivos" a "preguiçosos autocen- trados". Pelos vistos, uma característica destes últimos é que se interessam por História.
É verdade que saber História vale muito pouco no mercado de trabalho, mas também é verdade que saber Matemática pura, Física Teórica, Astronomia, Biologia Molecular, já para não falar de Filosofia, Sociologia, Geografia, Grego Clássico e Latim, Literatura Portuguesa, também não valem muito mais. E, by the way, os milhares de licenciados em Marketing, Economia, Jornalismo, ou como se diz agora "Ciências de Comunicação", Artes Performativas, Arquitectura, Composição, os pianistas, violoncelistas, violinistas, também não vão muito longe. Seguindo o critério do nosso mago do "empreendedorismo" , não é muito difícil, e no meu caso gratuito, aconselhar cursos seguros e certos. Eu costumo aconselhar maltês, uma língua de que há enorme escassez de tradutores e intérpretes na UE, e o turco, russo, chinês e árabe também podem fazer parte do currículo dos candidatos a "descomplexados competitivos". Mandarim ou cantonês de certeza que têm futuro, assim como "beber a água do Bengo", na exacta composição químico-financeira corrente para esses lados.
Saber de História não é garantia de nada, nem o conhecimento da História garante que se saiba governar
um país. Mas ajuda, ajuda pelo menos a ter-se uma visão menos cega da nossa missão no governo das coisas privadas e públicas, e a conhecer alguma coisa sobre os limites do voluntarismo político. E ajuda bastante a não se ser ignorante, nem a se actuar como um ignorante quando se pensa que tudo começa em nós, essa ilusão adâmica muito corrente nestes dias. .
A História ajuda nas coisas grandes e nas pequenas, toma o mundo mais interessante e alimenta a curiosi- dade e o engenho. Para gostar de comer um croissant não é preciso olhar para ele com os olhos da História e perceber que se está a cometer um acto muito pouco politicamente correcto de turcofobia, ou, pior, de
islamofobia. Mas quem sabe o que é e de onde vem o croissant, costuma saber um pouco mais sobre a História da Europa e isso faz bem à sanidade do debate público. Muita asneira que para aí circula sobre os feriados e o seu significado, sobre a Maçonaria, sobre o comunismo, sobre o fascismo, sobre a democracia, poderia ser evitada lendo um pouco mais sobre História.
A História, como todas as formas de cultura viva, é uma forma de saber e olhar. Engana e ilude muito, mas também modera a tendência para a vã glória. Se é que a História nos ensina alguma coisa, é que poucas coisas são realmente importantes e que 99,99% dos casos o que fazemos pouco muda, ou não muda nada. Para os governantes, é obrigatório, para se enxergarem melhor, uma actividade a que normalmente não lhes “assiste”. Países como o Reino Unido, ou os EUA, têm a História no centro da política, o que nem sempre dá bons resultados, como se vê em França, onde todos os Presidentes do passado achavam que eram uma encarnação de Vercingétorix, Joana d'Arc, Luís XIV, Napoleão ou De GauIle e os actuais já ficam contentes em serem como o Astérix.
O discurso de Odivelas do primeiro-ministro ganhava alguma coisa com a História, embora, como ele se encontra na categoria dos "descomplexados competitivos", não ligue muito a uma disciplina dos perdedores. Mas assim saberia que, antes de nomear os "preguiçosos autocentrados" como seus adversários, deveria pensar duas vezes sobre o papel que o epíteto de "preguiçosos" tem quando é usado genericamente para designar grupos ou comportamentos sociais. Para os colonos, os "pretos" eram a quinta-essência dos "preguiçosos" e por isso deviam ser obrigados a trabalhar à força de castigos corporais. Puxem pela língua a muitos patrões e aos seus capatazes (hoje chamam-se "responsáveis pelo pessoal"), às "patroas" sobre as suas "criadas", e o epíteto de "preguiçoso" aparece quase de imediato. Em países em que coexistem zonas industrializadas com regiões rurais, os habitantes dessas regiões, o Alentejo, a Galiza, a Andaluzia, o Sul de Itália, são descritos em anedotas como "preguiçosos". Nos campos trabalha-se muito, dependendo do ciclo agrícola, e há períodos de inactividade, onde, como toda a gente sabe das anedotas, os alentejanos estão debaixo de um "chaparro" a ver o mundo passar em slow motion.
Existe, aliás, outra classificação que costuma vir junto, a de associar essa ruralidade à falta de inteligência e dificuldade em socializar de forma adequada, ou seja, não só eram estúpidos, limitados, como não sabiam comer à mesa. É para isso que servem os epítetos de "saloios" ou de "labregos", a interessante migração da palavra galega para camponês, que veio junto nos anos trinta e quarenta do século XX com os galegos, que a miséria da sua terra trouxe para trabalhar em mercearias e restaurantes, ou outros ofícios menores, em Lisboa e no Porto. O problema da História é este, o de tornar poucas palavras inocentes.
Na luta de classes entre os "descomplexados competitivos" e os "preguiçosos autocentrados", a ordem dos pares é interessante, quer na parte social, quer na do psicologismo vulgar. Os "preguiçosos" são primeiro preguiçosos e só depois são "autocentrados", e os "competitivos" são primeiro "descomplexados" e é por isso que são "competitivos". Os pares têm, por isso, uma ordem invertida: nos "preguiçosos", avulta a condição social, nos "descomplexados", a psicologia domina. Embora provavelmente nada disto tenha sido muito pensado e saiu assim, como poderia ter saído de outra maneira semelhante, este dualismo revela aquilo que os sociólogos chamam as background assumptions do seu autor. Os que estão presos na sua condição social, deixam soçobrar a sua psicologia no egoísmo; os dinâmicos psicologistas ultrapassam a sua condição social pelo êxito no mercado.
O país divide-se assim entre funcionários públicos, vivendo do erário público, acima das suas posses, e fazendo tudo para ter feriados e não trabalhar (os "preguiçosos"), cultivando um egoísmo social assente em pretensos "direitos adquiridos" ("autocentrados"); e jovens yuppies, dinâmicos e empreendedores, com uma "cultura empresarial", capazes de correrem riscos ("competitivos"), sem cuidarem de terem "direitos" para subirem "por mérito", na escala social ("descomplexados"). Nem uns nem outros existem na vida real, nem sequer como caricaturas, que é o que isto é, mas isso pouco importa.
A História está cheia destes dualismos, velhos como o tempo, mas típicos da linguagem abastardada do poder dos nossos dias. É um esquema assente numa mistura de demonização e de wishful thinking, que circula assente num moralismo social, também típico dos dias que passam. A História revela o poder destrutivo deste tipo de discursos, que se tomam, de um momento para o outro, socialmente insuportáveis.
Esse momento ainda não se deu, e os papagaios do "pensamento único" repetem este discurso sem pararem para pensar. Ou sequer para ler alguma coisa de História, mesmo com o risco de se tomarem "preguiçosos auto-centrados". Historiador